terça-feira, 31 de julho de 2007

LUTO Outra vez...


O cinema mundial, que registrou na segunda-feira a morte do cineasta sueco Ingmar Bergman, perdeu outro grande mestre: o italiano Michelangelo Antonioni, o chamado gênio da incomunicabilidade, que marcou a história do cinema com filmes "Blow up - Depois daquele beijo", "O dilema de uma vida" e "Zabriskie Point".

Antonioni, ícone do cinema introspectivo, que desde meados dos anos 80 estava paralisado em uma cadeira de rodas devido a um derrame cerebral, morreu na noite de segunda-feira aos 94 anos, em sua residência em Roma, rodeado por familiares.

"Ele morreu calmamente, em sua cadeira, ao lado de sua esposa Enrica Fico", anunciou a imprensa italiana.

A capela ardente será instalada nesta quarta-feira na sala da Promoteca do Parlamento de Roma, onde serão prestadas homenagens ao cineasta.

Antonioni será sepultado na quinta-feira, em Ferrara (norte do país), onde nasceu em 29 de setembro de 1912 e onde começou sua carreira com documentários dedicados às populações que viviam próximas ao rio Po, "Gente del Po", terminado em 1947.

"Desaparece um dos maiores diretores do cinema, um mestre da modernidade", afirmou o juiz de Roma, Walter Veltroni, um conhecido crítico cinematográfico.

A morte de Antonioni ocorreu no mesmo dia em que faleceu o grande mestre sueco Ingmar Bergman, e deixa o cinema órfão de dois de seus principais criadores.

"Eram os intérpretes dessa angústia que afeta o mundo contemporâneo, dos sentimentos do mundo pós-guerra", comentou à AFP o historiador italiano especializado em cinema, Aldo Tassone.

Seu cinema, marcado pela obsessão da imagem e a busca de uma linguagem formal e estética, com cenas longas e lentas, servia na realidade para indagar o mundo interior de seus personagens, em um espaço enigmático.

Filmes como "O dilema de uma vida" (1964), "Blow Up - Depois daquele beijo", adaptação de um conto de Julio Cortázar, sobre o inquietante descoberta de um crime graça a uma fotografia, e "Profissão: repórter" marcaram a história do cinema.

Diretor de cerca de 20 filmes, recebeu vários prêmios ao longo de sua carreira, entre eles o Leão de Ouro da Mostra de Veneza, em 1964, por "O dilema de uma vida" e a Palma de Ouro do Festival de Cannes (França) em 1967 por "Blow Up - Depois daquele beijo".

Antonioni também obteve o prêmio especial do júri em Cannes, em 1982, por "Identificação de uma mulher" e o Oscar de Hollywood em 1995 pelo conjunto de sua carreira, assim como o Leão de Ouro, pelo mesmo motivo, em Veneza, no ano de 1997.

Nascido em uma família burguesa, economista de formação, iniciou sua carreira como crítico de cinema no Centro Experimental de Cinema de Roma, o centro do cinema italiano e do antifacismo.

Grande intelectual, autor e co-autor da maioria dos seus scripts, entre eles "O eclipse", interpretado pela sua atriz favorita, Monica Vitti, também companheira sentimental por vários anos.

Depois de 13 anos sem poder se mexer e privado da fala em conseqüência de um derrame cerebral, Antonioni dirigiu, junto com Wim Wenders, "Além das nuvens" (1995), filme que obteve dois prêmios no Festival de Veneza desse ano.

Ao completar 90 anos em setembro de 2002, já bastante doente, foi homenageado em Roma pela comunidade de cinema italiano com uma comemoração especial.

Nos últimos anos retornou à direção, ajudado por sua esposa, para realizar dois filmes: um documentário sobre a restauração do Moisés de Michelângelo em 2004 e com um episódio do filme "Eros", apresentado no Festival de Veneza nesse mesmo ano.

O episódio foi tão ousado que o produtor francês teve que cortar três minutos de uma cena em que a protagonista feminina se masturbava.

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