domingo, 28 de outubro de 2007

CINEMA

Sean Penn filma a jornada de um jovem solitário em "Into the Wild"



Em "Into the Wild", seu quarto longa-metragem como diretor, o ator americano Sean Penn filma a história verídica de um jovem que saiu de casa rumo ao Alasca e nunca mais retornou.

"Into the Wild" acompanha a viagem solitária realizada por Chris McCandless (Emile Hirsch, de "Alpha Dog") - que, inconformado com as constantes brigas dos pais, deixou o conforto de casa para trás e decidiu viver por conta própria, em contato com a natureza. Entre 1990 e 1992, ele caminhou de Dakota do Sul até o Alasca, onde passou quatro meses, até morrer supostamente de inanição.

Penn levou dez anos para convencer os pais de McCandless (interpretados por William Hurt e Marcia Gay Harden) a autorizá-lo a adaptar para o cinema o best-seller "Na Vida Selvagem", de Jon Krakauer. A maioria das cenas foi rodada nos lugares onde a jornada real aconteceu.

O ator e cineasta já declarou esperar que o filme incentive os jovens a "se esforçarem para sair de sua zona de conforto" - sem, no entanto, "colocar sua vida em risco de maneira insensata".

sábado, 27 de outubro de 2007

Holandeses protestam contra proibição de cogumelos



Uma multidão se reuniu em Amsterdã para protestar contra o plano do governo holandês de proibir o uso e a comercialização de cogumelos alucinógenos. A passeata foi organizada pelo grupo Red de Paddo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

CINEMA

Trecho de uma entrevista de Leon Cakoff, diretor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


"Críticos e cinéfilos precisam reaprender que filmes e seus autores podem existir independentemente de suas opiniões. Críticos e cinéfilos precisam parar de querer educar os cineastas com suas opiniões ou desconsiderações excludentes. [...] Críticos devem conduzir filmes e seus pensamentos com as fragilidades requeridas. Não devem entregar produtos aos consumidores finais já destruídos na embalagem. Devem deixar a própria vida sedimentar os fragmentos de filmes que dão base a nossos conceitos e sabedorias. Os filmes devem voltar a ser vistos como materiais de construção."

Abaixo, foto do novo filme de Ang Lee que está dando o que falar no mundo todo...



A Xangai dos anos 40, durante a ocupação japonesa, é cenário para um drama temperado com espionagem, romance e apimentadas doses de sexo. A jovem Wang Chiah-Chih envolve-se com a Resistência e tem por tarefa aproximar-se de um figurão da política local, aliado dos japoneses, e servir de isca para eliminá-lo. O desafio maior é abrir uma brecha na barreira de segurança que cerca o cauteloso empresário e atraí-lo a uma armadilha. Para tanto, ela usa de muita sedução. Uma inesperada reviravolta, no entanto, pode fazer sucumbir todo o plano. O filme foi premiado com o Leão de Ouro no festival de Veneza de 2007, dois anos depois de o diretor Ang Lee ganhar o mesmo prêmio com O Segredo de Brokeback Mountain. A produção rendeu ainda o prêmio Osella de melhor fotografia para o mexicano Rodrigo Prieto.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

TODOS OS DIAS




COMING SOON

Dos Três Mal-amados Palavras De Joaquim



O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha
genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e
comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas
camisas
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus
sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus
olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha
noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da
morte

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Mombojo



Mombojó - Nem Parece
Felipe S & Vicente Machado

nem parece que foi ontem que o acontecido aconteceu
nem parece que o esperado num instante desapareceu
nem parece que foi lá
nem me parecia ser um lar
mas por favor não me faça perder meu tempo
a cada hora e a cada momento
que eu desperdiço com você
não sei se no fim tudo vai voltar
nem parece que o que aconteceu repercutiu demais pra
mim
nem parece que minhas lágrimas tiveram fim
nem parece que eu chorei
nem parece que eu quis chorar

Elefantes e uma bem geladinha...


Elefantes se embriagam, derrubam poste e morrem eletrocutados

Nova Délhi, 23 out (EFE).- Pelo menos seis elefantes asiáticos, entre eles três filhotes, morreram eletrocutados depois de se embriagarem com cerveja e baterem em cabos de alta tensão no nordeste da Índia, informou hoje uma fonte oficial.

O incidente aconteceu neste domingo, no povoado de Chandan Nukat.

Uma manada de cerca de 40 elefantes bebeu por engano a cerveja de arroz preparada pelas tribos da região de Meghalaya. Em seguida, eles começaram a correr pelos arrozais.

"Um dos elefantes tentou esfregar o lombo num poste elétrico, que não resistiu ao seu peso e caiu. O animal, então, sofreu um contato direto com o cabo de alta tensão", disse o ativista Dipu Marak, em declarações à agência indiana "Ians".

Várias testemunhas e funcionários disseram que viram o elefante, um macho adulto, retorcendo-se de dor e barrindo. O som atraiu vários outros, que sofreram o mesmo destino.

"Era patético ver a um elefante atrás do outro se electrocutando diante de nossos olhos. Morreram seis no total, inclusive três filhotes", disse um ancião do povoado, T. Sangma.

"Mais elefantes poderiam ter morrido. Mas alguns dos aldeões conseguiram afastar do cabo o resto da manada", acrescentou.

Nos últimos meses, houve vários casos de elefantes causando danos em áreas de Meghalaya e na região vizinha de Assam, especialmente nos povoados onde as tribos elaboram cerveja de arroz, disse à "Ians" o especialista Kushal Konwar Sharma.

Os elefantes embriagados se enfurecem com facilidade e destroem choças e celeiros, além de atacar os habitantes das aldeias.

O aumento de ataques contra pessoas também se deve, segundo os especialistas, ao fato de que seu habitat está cada vez mais ameaçado pelas atividades humanas.

Na região de Assam, os elefantes mataram 239 pessoas nos últimos cinco anos. No mesmo período, 265 deles morreram, a maioria vítima de atos de vingança de humanos.

Assam e Meghalaya têm cerca de 6 mil elefantes asiáticos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Pedaço de Mim



Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

domingo, 14 de outubro de 2007

sábado, 13 de outubro de 2007

Lembranças


Tudo sendo arrumado para mais um dia de gravação do longa que nunca sai "Todos os Dias". Estamos dentro de um apartamento na Barra Funda, Jiddu Pinheiro sendo maquiado e Talita Castro na varanda fumando um cigarro enquanto espera a sua hora. De repente Talita pega o violão e começa a tentar tirar umas músicas...
Ela fala que apenas lembra uma música do Paulinho Mosca com quem namorou e logo começa a cantar "O Que Você Faria" e todos grudados numa pequena varanda tentando acompanhar o ritmo dela.
Toda equipe lá curtindo aquele momento ouvindo Talita soltar voz. Ela é linda, um doce de pessoa, suas histórias engraçadas deixavam toda a equipe inexperiente com mais vontade de trabalhar. Até mesmo quando resolvemos tomar umas enquanto o Jiddu voltava da peça que ele tava encenando no teatro da Faap.

Bons momentos que fizeram aqueles 5 meses sem dormir e comer direito valerem a pena.

Obs.: Além de ótima pessoa, é uma puta atriz e umagrande DJ... Sente só...

Não sou de assistir novela, a única que fazia eu sentar na frente da TV foi "Paraíso Tropical", mas não estou aqui pra discutir quem matou Taís. Talita Castro é a vilã da novela "Amigas e Rivais" do SBT. Confesso que vi a novela algumas vezes apenas por causa da Talita e do Marcelo, grandes atores que adoro.

Luto

Paulo Autran (1922 - 2007)



Uma das cenas mais famosas do ator.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

CAT POWER

Não sou igual meu amigo Diego que conhece tudo de tudo, pelo menos vou descobrindo aos poucos... No momento ando me viciando em Cat Power... em breve um video dela por aqui...

Charlyn Marie Marshall ou Chan Marshall é a cantora que está por trás de tudo da banda Cat Power.



Nascida em Atlanta, Georgia em 21 de janeiro de 1972, filha de um pianista, desde muito cedo em contato com a música, largou e ensino médio e foi morar em Nova York. Lá, sob o nome de Cat Power, realizou seu primeiro show em um Pub no Brooklin, segundo ela uma apresentação de improvisações, entre 1992/93.

Em 1994 abriu alguns shows da cantora Liz Phair e conheceu Steve Shelley (baterista do Sonic Youth) e Tim Foljahn (guitarrista do Two Dollar Guitar), que a encorajaram a gravar seus dois primeiros álbuns: "Dear Sir"(1995) e "Myra Lee"(1996). Ambos foram gravados em Nova York no mesmo dia, em dezembro de 1994.

Em 1996 assinou com a gravadora Matador e gravou seu terceiro álbum entitulado "What Would the Community Think", lançando o clipe do single "Nude as the News". Após uma turnê de 3 meses em 1996, Chan abandonou a cena musical para trabalhar como babá em Portland, no Oregon e depois se mudou para uma fazenda em Prosperity na Carolina do Sul com seu namorado Bill Callahan (Smog).

Chan Marshall planejava abandonar a música definitivamente, mas após uma noite de pesadelos surgiram as letras que iriam compor o álbum "Moon Pix", gravado no Sing Sing Studios em Melbourne na Austrália. Com elogios da crítica, Cat Power passou a ser reconhecida pela cena do Indie Rock.

A cantora americana foi convidada a fazer o acompanhamento musical do filme mudo "A Paixão de Joana d´Arc", uma produção francesa de 1928.

Em seus shows eram apresentados novos materiais e muitos covers, que deram origem ao álbum "The Covers Record" (2000), uma coletânea de versões tocadas por Chan entre 1998/99.

Em 2003, Cat Power voltou com canções novas no super elogiado álbum "You are free" que conta com a participação de músicos como Eddie Vedder e Dave Grohl.



No ano de 2004, ela lançou seu primeiro DVD chamado "Speaking for Trees", acompanhado de um CD de áudio. Em 1996, Chan interrompeu sua turnê pelos EUA e pela Inglaterra por motivos de saúde. Mais tarde a própria cantora revelou ao The New York Times que estava em depressão profunda e com tendências suicidas devido ao uso de substâncias químicas e álcool, que passaram a fazer parte do cotidiano da cantora durante os ininterruptos shows e turnês desde 1998.

Após tratamento psquiátrico no Miami's Mount Sinai Medical Center, Chan Marshall retornou recuperada e lançou aquele que é considerado o seu mais bem elaborado álbum: "The Greatest" de 2006. Esse disco tem a colaboração de Al Green e do guitarrista Teenie Hodges. Um flerte da musa indie com o soul.

Cat Power anunciou em seu MySpace o lançamento em breve de um novo album, entitulado "The Covers Record vol.2"

Woody Allen: 'Bergman sempre fazia perguntas difíceis'

Recebi a notícia em Oviedo, uma charmosa cidadezinha do norte da Espanha onde estou filmando, de que Bergman tinha morrido. Um amigo em comum telefonou e me deram o recado no set. Bergman disse para mim uma vez que não queria morrer num dia ensolarado, e, como eu não estava lá, posso apenas desejar que ele tenha tido o tempo ameno que todos os diretores preferem.



Já disse isso antes para pessoas que têm uma visão romântica dos artistas e acham que a criação é sagrada: no final, a arte não é capaz de salvá-lo. Não importa quantos trabalhos sublimes você faça (e Bergman nos deu um menu de fantásticas obras-primas do cinema), eles não o protegem da fatal batida à porta que interrompeu o cavaleiro e seus amigos no final de “O Sétimo Selo”. E da mesma forma, num dia de verão de julho, Bergman, o grande poeta cinematográfico da mortalidade, não pôde prolongar seu próprio xeque-mate, e o melhor cineasta do meu tempo se foi.

Fiz piadas sobre a arte ser o catolicismo dos intelectuais, ou seja, uma esperançosa crença na vida após a morte. Melhor do que continuar vivendo nos corações e mentes do público é continuar vivendo no próprio apartamento, é assim que eu vejo. E certamente os filmes de Bergman continuarão a viver e serão vistos em museus e na TV e vendidos em DVDs, mas tendo-o conhecido, isso é apenas uma compensação banal, e tenho certeza de que ele ficaria muito contente em trocar cada um dos seus filmes por mais um ano de vida. Isso o teria dado perto de 60 aniversários a mais para continuar fazendo filmes; uma notável produção criativa. E, na minha imaginação, não tenho dúvidas de que seria dessa forma que ele usaria seu tempo extra, fazendo a coisa que ele mais gostava entre todas as outras, rodando filmes.

Sem preocupação com a bilheteria
Bergman gostava do processo. Ele não se preocupava muito com as respostas aos seus filmes. Ele gostava quando era apreciado, mas como me disse uma vez, “Se não gostam de um filme que eu fiz, fico chateado – por cerca de 30 segundos.” Ele não estava interessado nos resultados das bilheterias, mesmo quando os produtores e distribuidores telefonavam para ele com os números do fim de semana de estréia, que entravam por um ouvido e saíam pelo outro. Ele dizia: “Até o meio da semana o prognóstico extremamente otimista deles vai despencar para nada.” Ele gostava da aclamação da crítica, mas nem por um segundo precisava dela, e apesar de querer que o público gostasse de seu trabalho, ele nem sempre tornou seus filmes mais fáceis de assimilar.

Ainda assim, aqueles que se empenharam um pouco em decifrá-los tiveram seus esforços recompensados. Por exemplo, quando você percebe que ambas as mulheres em “O Silêncio” são de fato apenas dois aspectos conflitantes da mesma mulher, o filme que do contrário é enigmático, abre-se como que por encantamento. Ou, se você estiver por dentro da filosofia dinamarquesa antes de assistir “O Sétimo Selo” ou “O Rosto”, certamente ficará mais fácil, mas os dons de Bergman como contador de histórias eram tão fantásticos que ele conseguia manter o público atento e cativo mesmo com uma obra difícil. Ouvi pessoas saindo de alguns filmes dele dizendo: “Não entendi bem o que acabei de ver mas fiquei colado à poltrona em cada cena.”



A fidelidade de Bergman era com a teatralidade, e ele foi também um grande diretor de palco, mas seu trabalho no cinema não trazia informações só do teatro; tinha influências também da pintura, música, literatura e filosofia. Seu trabalho investigou as preocupações mais profundas da humanidade, fazendo com que seus poemas de celulóide fossem freqüentemente profundos. Mortalidade, amor, arte, o silêncio de Deus, a dificuldade das relações humanas, a agonia das dúvidas religiosas, casamentos falidos, a inabilidade das pessoas em se comunicarem.

O que responder a um gênio?
E apesar disso tudo, era um homem amável, divertido, gostava de fazer piadas, era inseguro quanto a seus imensos talentos, encantado pelas mulheres. Conhecê-lo não era como entrar de repente no templo criativo de um gênio formidável, intimidador, depressivo e introspectivo que entoava complexas epifanias com um sotaque suíço sobre o terrível destino do homem em um universo sombrio. Era mais assim: “Woody, tive esse sonho bobo em que eu apareço no set para fazer um filme e não consigo me decidir onde colocar a câmera; o ponto é, sei que sou bom nisso e que venho fazendo filmes há anos. Você já teve esses sonhos nervosos?” ou “Você acha que seria interessante fazer um filme em que a câmera não se move um centímetro e os atores somente entram e saem de enquadramento? Ou as pessoas simplesmente ririam de mim?”


O diretor sueco, Ingmar Bergman (Foto: New York Times)
O que alguém responde a um gênio no telefone? Eu não achava que era uma boa idéia, mas nas mãos dele acho que teria saído algo especial. Afinal, o repertório que ele inventou para explorar as profundidades psicológicas dos atores também teria soado absurdo para aqueles que aprendem a filmar de uma forma ortodoxa. Nas escolas de cinema (fui expulso da Universidade de Nova York bem rápido quando fui aluno de cinema lá nos anos 50) a ênfase está sempre no movimento. Essas são fotografias em movimento, ensinam para os alunos, e a câmera deve se mover. E os professores estavam certo. Mas Bergman colocava a câmera no rosto de Liv Ullmann ou de Bibi Andersson e a deixava lá, sem qualquer movimento, e o tempo passava, e mais tempo se passava, e uma coisa estranha e maravilhosa própria de seu brilhantismo acontecia. O espectador era sugado para dentro da personagem e, em vez de entediado, ficava intrigado.

Bergman, por todas as suas idiossincrasias e obsessões religiosas e filosóficas, era um contador de histórias que não sabia deixar de entreter mesmo quando sua mente estava dramatizando as idéias de Nietzsche ou Kierkegaard. Eu costumava ter longas conversas ao telefone com ele. Ele ligava da ilha onde morava. Nunca aceitei seus convites para visitá-lo porque não gostava da idéia de viajar de avião, e não me apetecia voar num avião pequeno para um pontinho no mapa próximo à Rússia para o que eu imaginava que seria um almoço regado a iogurte. Nós sempre discutíamos filmes, e obviamente eu o deixava falar muito mais porque me sentia privilegiado ouvindo seus pensamentos e idéias. Ele projetava filmes para si próprio todos os dias e nunca se cansava de assistí-los. Todos os tipos, mudos e falados. Para dormir ele assistia a algum filme que não o fizesse pensar para relaxar sua ansiedade, às vezes um filme de James Bond.

Como todos os grandes cineastas como Fellini, Antonioni e Buñuel, por exemplo, Bergman recebeu suas críticas. Mas, perdoando alguns lapsos ocasionais, todos os filmes desses artistas ecoaram profundamente em milhões de pessoas ao redor do mundo. De fato, as pessoas que mais conhecem sobre cinema, aqueles que fazem filmes – diretores, escritores, atores, diretores de fotografia, editores – vêem o trabalho de Bergman com a mais alta reverência.

Pelo fato de eu ter elogiado seu trabalho com tanto entusiasmo ao longo de décadas, quando ele morreu muitos jornais e revistas me ligaram para fazer comentários ou dar entrevistas. Como se eu tivesse algo de grande valor para acrescentar às notícias da morte além de mais uma vez simplesmente exaltar sua grandeza. Como ele me influenciou, perguntaram para mim? Ele não poderia ter me influenciado, respondi, ele era um gênio e eu não sou um e a genialidade não pode ser aprendida ou sua mágica ser transmitida.

Quando Bergman surgiu em Nova York como um grande cineasta, eu era um jovem escritor de humor e comediante da noite. Será que o trabalho de alguém pode ser influenciado tanto por Groucho Marx quanto por Ingmar Bergman? Mas consegui absorver uma coisa dele, algo que não depende de gênio nem de talento, mas algo que pode de fato ser aprendido e desenvolvido. Estou falando sobre o que é informalmente chamado de ética de trabalho, mas na verdade é simplesmente pura disciplina.



Aprendi com seu exemplo a tentar fazer sempre o melhor filme que eu sou capaz de fazer naquele momento, nunca me submetendo ao mundo maluco dos sucessos e fracassos ou sucumbindo a interpretar o papel glamouroso do diretor de cinema, mas sim terminando um filme e partindo para o próximo. Bergman fez cerca de 60 filmes em sua vida, eu fiz 38. Pelo menos, se não posso chegar à sua qualidade, talvez possa chegar perto da quantidade.

Woody Allen Especial para o 'The New York Times'
Tradução: Eloise De Vylder