sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

JALAPÃO


Esse texto foi escrito por um amiga que trabalha na Secretaria de Comunicação do Estado do Tocantins, onde está sendo gravado a nova temporada do reality show "Survivor" pela Rede de Televisão CBS.

Jalapão é território americano desde setembro; tocantinense está
impedido de entrar na área
25/11/2008 10:06:27

Tem muita gente indignada com o que está ocorrendo no Jalapão. Há
cerca de 90 dias, a rede americana de TV CBS grava o programa
Survivor, um reality show, que será comercializado para 120 países -
menos para o Brasil, segundo nota do jornalista Luiz Armando Costa, na
coluna Cidade Aberta, em O Jornal desta semana.

Mais de 300 pessoas estão trabalhando confinadas no projeto desde
setembro. São 75 contêineres instalados para suporte do programa, numa
área de preservação ambiental, transportados para lá sobre as estradas
sensíveis do Jalapão. As gravações estão sendo feitas às margens do
não menos sensível Rio Sono. Segundo informações que circulam pelo
Estado, são US$ 30 milhões em equipamento.

O Jalapão foi totalmente interditado ao povo tocantinense e
brasileiro. Foi transformado em território americano, e até o espaço
aéreo está fechado. Para se ter idéia da "internacionalização", o
avião do governador Marcelo Miranda (PMDB), que foi visitar as
gravações, teve que mudar a rota porque não podia sobrevoar a área.

Fitas de filmadoras e chips de câmaras fotográficas - mesmo da
Secretaria Estadual de Comunicação (Secom) - são confiscados pela
equipe da CBS e só serão liberados após 12 de dezembro, quando
terminam as gravações. Quem foi até o local diz que para entrar é
necessário assinar um contrato, em inglês, de dez folhas (detalhe: até
o governador!).

Americanos e australianos, que comandam o programa, instalaram no
Jalapão a bandeira dos Estados Unidos - nem sinal, nem qualquer
lembrança, de que se trata de território brasileiro e tocantinense.

Também conforme informações de quem foi até o local, há placas nas
vias de acesso às dunas com as inscrições (em inglês e português) do
tipo "dunas fechadas para o público" e "propriedade particular".

O retorno do Tocantins com perda temporária (esperamos!) da autonomia
sobre parte de seu território é a divulgação das imagens do Estado
para 120 países (mesmo considerando que o Jalapão, conforme
especialistas, não está preparado para receber mais do que 200
visitantes).

É uma modernização daquela estratégia usada por portugueses para
conquistar nossos índios: trocar espelhinhos por ouro.

Com o custo adicional da depredação de uma das nossas maiores riquezas
naturais, patrimônio do povo tocantinense e brasileiro.

Será que os americanos aceitariam que fechássemos o Grand Canyon para
fazer algo parecido? Que submetêssemos o governador do Colorado a esse
tipo de humilhação: ter que desviar sua rota área para não sobrevoar
seu território e ter que obrigá-lo a assinar contrato em português
para poder entrar em seu território? Será ainda que aceitariam que
fincássemos bandeiras brasileiras no Grand Canyon? E se impedíssemos o
ingresso nele do povo americano?

Parece que temos vocação para colônia. Não tem dinheiro, nem
divulgação nenhuma, que pague abrirmos mão de nossa dignidade e de
nossa autonomia.

Como diz aquela música: "Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar o
seu valor"!





--
Camila Santos

1 comentário:

Quel disse...

I am "Survivor"
iê iê